Por que estudar música.
As crianças são seres musicais, mas precisam do espaço certo para desenvolver suas habilidades. Entenda como isso acontece em casa e na escola.
Texto Beatriz Montesanti
Foto: Claudia Marianno
Aprender música na fase escolar ajuda a criança em muitos aspectos!
A música está por todo lado, na natureza, na cidade, nas pessoas. No entanto, nem todos sabem escutá-la. Para Carlos Dorlass, diretor geral do colégio Peretz, esta é a maior importância do ensino musical: ensinar a escutar.
Mas os benefícios não param por aí. Não à toa que, a partir de 2012, o ensino musical tornou-se obrigatório na Educação Básica, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). A Educação Musical pode auxiliar na alfabetização, desenvolver raciocínio lógico e criatividade, além de ser um bom apoio para o ensino de outras disciplinas.
No entanto, Teca Alencar de Britto, professora de música da USP, alerta: "Sempre se busca um porquê para estudar uma forma de arte". Para ela, a importância da música está em si mesma: "Primeiro de tudo deve-se ter a música pela música: o conhecimento de mundo, o ritmo, a sensibilidade. Depois, os benefícios que ela traz, como maior atenção, coordenação motora e disciplina", enumera.
Confira os benefícios da Educação Musical:
De acordo com a professora Teca Alencar de Britto, a música é orgânica e corporal, principalmente nas crianças: "Enquanto os adultos racionalizam e teorizam muito, as crianças não têm qualquer inibição básica, e isso pode ser aproveitado".
Beto Schkolnick, professor da Escola de Educação Infantil Jacarandá e coordenador da área de música do Colégio Magno, em São Paulo, explica como o trabalho de música realizado com crianças está voltado para a experimentação sensorial, com brincadeiras que as ajudem a descobrir este universo.
Uma atividade realizada nesta fase, por exemplo, é a contação de histórias utilizando diferentes sons e instrumentos para cada personagem: "Um som será um dos porquinhos, o outro, mais forte, será o som do lobo, e assim trabalhamos as intensidades", explica.
Saber discriminar os sons, não só dos instrumentos, mas do mundo a sua volta, é extremamente importante: trata-se da percepção sonora. Basicamente, é saber reconhecer o que se está escutando, saber que tal som pertence a um violino ou a uma bateria.
Nos ambientes em que vivemos, inclusive o escolar, há muitos ruídos, o que banaliza o som. A Educação Musical, por sua vez, cria espaços para a valorização da escuta. "Ouvir é uma habilidade. É saber prestar atenção, relacionar letra, música, ritmo. Isso serve para a tudo na vida", diz Carlos Dorlass, diretor geral do colégio Peretz.
Essa percepção pode ser criada por meio de jogos, como improvisação e percussão corporal. De acordo com o professor Beto Schkolnick, ao ouvir os registros do som é possível chamar a atenção para o grave, o agudo, as diferentes intensidades e timbres.
3. Compreender o mundo
O caminho inverso também acontece: a própria música serve de instrumento para compreender uma cultura ou a sensibilidade de uma época. Há músicas que ajudam a compreender características de um povo, de uma cidade ou de um movimento artístico, e isso pode ser apropriado para aulas de história e geografia, por exemplo.
No colégio Peretz, em São Paulo, o tradicional sinal da troca de aula foi substituído por 20 segundos de música. "Toda semana colocamos algo diferente, geralmente ícones da música brasileira ou da cultura judaica", explica o diretor Carlos Dorlass. A música da semana é abordada mais tarde em sala de aula: "Falamos da história da letra, do contexto, dos seus elementos. E assim a educação é feita em parceria".
As famílias também têm suas próprias histórias musicais: podem ouvir e cantarolar estilos do interior, como moda de viola, ou músicas religiosas, típicas de seus países de origem. Essas canções são um material interessante para a sala de aula e ainda envolvem a família toda na Educação.
"Não se pode achar que a Educação Musical é só a que acontece na escola. A cultura familiar pode dar um direcionamento para o trabalho", conta o professor Roberto Schkolnick.
Além disso, ouvir música em casa é uma forma de compartilhar experiências bacanas. Para a professora Teca, é muito importante que os pais tenham essa convivência musical com as crianças: "Desde o início da infância pode-se criar um vínculo afetivo por meio da música, mesmo com as canções de ninar. O importante não é ter o refinamento, mas a qualidade afetiva. Isto tem um valor enorme para fortalecer vínculos", conclui.
Para os adolescentes, muitas vezes, o conhecimento musical está ligado ao que é veiculado pela mídia. Além disso, jovens se identificam com grupos sociais por meio da música e tendem a rejeitar o que vem dos adultos. Para o professor Roberto, o melhor caminho para superar esta resistência é sempre o do diálogo. Pais e professores devem estabelecer uma parceria e não apenas negar aquilo que é interesse dos jovens.
As aulas precisam ter eco e fazer algum sentido para a criança, por isso não pode haver juízo de valor. "Assim, eles também aprendem a ouvir o que o professor e outros colegas propõem", defende Teca Alencar de Britto, professora de música. "Acho que isso cria um ambiente democrático e de reflexão, transformando a relação da criança e do jovem com a música, de forma que se tornem mais abertos", conclui
A arte em geral, é uma forma de expressão e comunicação. "A música acaba sendo uma linguagem muito fácil de apropriar. É uma dádiva, todo mundo pode", diz Roberto. "A música é como a língua portuguesa. Por um lado, você pode fazer a análise sintática, por outro, pode-se realizar a interpretação, criar sentidos, construir formas poéticas ou informativas".
De acordo com Liliana Bertolini, professora de música da EMIA (Escola Municipal de Iniciação Artística), é muito comum que pais queiram um instrumento e a criança, outro. "É um mito de que seja melhor iniciar com o piano porque é o básico. O melhor instrumento para iniciar é o que a criança gosta do som!", diz a professora.
Claro, há também a criançada indecisa, que quer tocar tudo ou que sempre muda de ideia. Neste caso, o caminho é novamente o da conversa: "O ideal é tentar insistir em um instrumento por pelo menos seis meses, pois leva um tempo até entender o mecanismo dele ou ganhar um mínimo de intimidade com o som. Se depois não der certo, é melhor trocar, pois a criança não encontrou identificação", explica.
Qual é, então, a função dos pais na educação musical? "Cabe a eles ajudar os filhos a organizar a rotina do estudo, mesmo que não conheça o instrumento", responde a professora. "Não é para estudar junto, mas estar ao lado deles". Outra forma que os pais podem ajudar a incentivar os filhos é pedir para que toquem para eles, familiares a amigos. Assim o instrumento torna-se algo que podem compartilhar. Que seja também uma forma de expressão e diversão, não apenas estudo.
Outra questão importante é se o instrumento escolhido foge ao orçamento familiar, mas há formas de contornar esta questão. Na escola EMIA, ligada à Secretaria da Cultura e dedicada a aulas de artes, as crianças podem usar o instrumento da própria escola. "A família tem que organizar o orçamento. Eu já vi muitas soluções diferentes, como familiares fazendo uma vaquinha com todos os parentes para comprar uma flauta transversal para o menino", lembra Liliana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário