quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Música para 1º e 2º anos: 3 O que ensinar?

Atenção: Leia as postagens na ordem do roteiro didático no menu Música para 1º e 2º anos: Revista Nova Escola , a direita da tela.

3.1 Música, cultura e repertório.

É importante que as crianças entendam a música como uma modalidade artística de expressão das sociedades em diferentes épocas e lugares

O contato com a música é imprescindível desde os primeiros anos da Educação Infantil. A partir do 1º ano do Ensino Fundamental, no entanto, é possível propor que as crianças comecem a compreender a música enquanto linguagem dotada de sentido, uma forma de expressão dos povos em diferentes épocas e lugares.

Por isso, no trabalho com as séries iniciais é fundamental que se apresentem obras de diversos artistas e gêneros, produzidas em períodos distintos da história - desde a música barroca, por exemplo, até as canções do nosso folclore regional, parlendas e cantigas de roda. A formação do repertório (que influi diretamente na construção do gosto da criança) passa pela audição de músicas dos mais diferentes tipos, pela experimentação de apresentações musicais e artísticas de comunidades e pela apreciação da produção musical de diferentes regiões do país, consideradas em sua diversidade.

Nas séries iniciais, as crianças precisam se familiarizar com diferentes ritmos e estilos e compreender a importância da música para as civilizações. Por isso, você deve colocar a turma em contato com diferentes fontes de registro e preservação da produção sonora, como as partituras e os discos, por exemplo. É essencial que as crianças conheçam os recursos disponíveis para ter acesso e divulgar a música em diferentes espaços.

Outro ponto importante é propor situações para que, até o final do 2º ano, os alunos possam reconhecer a forma, o som e algumas características comuns aos diferentes instrumentos. Abra espaço nas aulas para que as crianças tragam as músicas e os instrumentos que conhecem. Uma boa atividade é montar um painel na sala com as imagens dos instrumentos, agrupados pelas famílias - cordas (violino, viola, violoncelo, contrabaixo), madeiras (flautas, oboés, fagotes), metais (saxofone, trompete, trompa, trombone) e percussão (chocalhos, tambores, triângulos, xilofones) - ou pelo som - instrumentos de som grave e de som agudo, por exemplo.


(Obs: correção musicalizabrasil: Saxofone é um instrumento da família das madeiras, apesar de ser feito de metal.)

Usar instrumentos de verdade nas aulas também é muito importante. Mesmo que você não saiba tocá-los, você pode convidar um músico para ir à escola fazer uma demonstração. Outra alternativa é usar discos que mostrem o som dos instrumentos.

Vale lembrar: as aulas de música, mesmo quando ministradas pelo professor unidocente, não devem ser pautadas apenas pelas canções de comando, como "meu lanchinho, meu lanchinho...", ou pelas datas comemorativas. É preciso que as crianças compreendam a importância da linguagem musical para a expressão humana.


Link original: http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/musica-1o-2o-anos-640283.shtml?page=3.1


3.2 Apreciação e audição

Ouvir atentamente é imprescindível para interpretar e viver a experiência estética da música

Ouvir muita música para aprender música. Este é um princípio fundamental. Segundo o educador musical inglês, Keith Swanwick, apreciar uma música não é algo que sabemos desde sempre, não é instintivo. Precisamos educar nossos ouvidos para a apreciação. À medida que aprendemos a escutar, nossa experiência com a linguagem musical se torna cada vez mais rica, pois aprendemos a interpretar a intencionalidade de cada artista em uma composição e, depois, passamos a desenvolver nosso próprio potencial criativo para nos expressarmos por meio da música (como veremos adiante, no item 3.4 Improvisos e composições).

Se na Educação Infantil, o foco das atividades em música é a experimentação - as brincadeiras e o reconhecimento dos sons -, as séries iniciais são o momento mais apropriado para aprofundar a audição dos alunos e apresentar a eles diferentes repertórios - da produção regional, nacional e internacional, em diferentes períodos da história. Até o final do 2º ano espera-se que as crianças sejam capazes de reconhecer diferentes sons (os barulhos na sala de aula, os sons dos objetos, diferentes timbres de voz, o som dos instrumentos etc.) e já consigam discutir, com alguma propriedade, o que pode e o que não pode ser classificado como "música".

O eixo apreciação trata desse contato dos alunos com o patrimônio musical da humanidade. Por isso, ao longo das aulas de música, é fundamental que eles possam assistir a algumas apresentações ao vivo (de grupos folclóricos regionais ou uma performance sua com instrumentos, por exemplo) e conheçam diferentes gêneros musicais, apreciados em som e em imagens (os alunos podem assistir, em vídeo, a trechos de uma ópera ou de um show de rock, por exemplo). O importante é que todos compreendam que, para aproveitar a experiência estética e sensível que a música proporciona, a audição não pode ser despreocupada, despropositada. Ela tem de ser atenta - e você é o responsável por oferecer caminhos para que os alunos se desenvolvam nesse sentido.


Uma boa atividade é fazer com que, ao longo das audições, as crianças façam relações entre a linguagem musical e a escrita musical. Isso não significa que você terá que ensinar notação musical aos alunos - primeiro eles precisam entender por que precisam das notas, depois porque este não é um aprendizado essencial nas séries iniciais - mas você pode combinar escritas com a turma: desenhar uma sequência rítmica de bolas e quadrados, por exemplo, em que as bolas pintadas indicam silêncios, as bolas sem preenchimento significam uma palma e os quadrados indicam duas batidas seguidas com os pés no chão.

As atividades de audição e apreciação também devem ser compartilhadas pela turma: organize momentos na rotina para que os alunos comentem as emoções que cada música evocou e possam associar essas sensações a aspectos reais da obra escutada. Você deve orientar as crianças, oferecendo informações sobre a história da música e o contexto de produção do artista.

Link Original: http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/musica-1o-2o-anos-640283.shtml?page=3.2


3.3 Percepção de variações sonoras

Identificar os elementos da linguagem musical é um dos objetivos do trabalho no 1º e 2º anos


Antes de aprender a compor ou a se expressar por meio dos sons, as crianças precisam compreender alguns conceitos da chamada teoria musical. Entender as noções de forma e gênero musical, assim como os elementos desta linguagem - o pulso, o compasso, o ritmo, as notas musicais - são conhecimentos essenciais para que os alunos se desenvolvam. A esse eixo damos o nome de percepção.

Isso não significa que as aulas de música devam ser planejadas apenas como aulas expositivas de teoria. Pelo contrário. Segundo a educadora musical Maura Penna, "musicalizar é desenvolver os instrumentos de percepção necessários para que o indivíduo possa ser sensível à música, apreendê-la, recebendo o material sonoro/musical como significativo". Em outras palavras, nunca perca de vista os objetivos pedagógicos de cada uma das atividades propostas para a turma - vale lembrar que as aulas de música não podem ser confundidas com momentos de recreação. No entanto, utilizar jogos e brincadeiras musicais é uma boa estratégia para ensinar os conceitos básicos da linguagem musical - quando as crianças usam chocalhos para marcar o pulso de uma canção, quando cantam ou usam o corpo como instrumento (veja mais sobre os improvisos e composições no item 3.4) - estão aprendendo noções elementares que serão cruciais para o aprendizado de música nos anos seguintes do Ensino Fundamental.

Até o final do 1º ano, as crianças devem dominar os conceitos relacionados às variações de altura (sons graves e agudos), intensidade (sons fortes e fracos), duração (sons lentos e rápidos) - -  "correção musicalizabrasil - duração: curtos e longos" - e timbre (as distinções de sons que estão em uma mesma frequência ou intensidade) - os chamados quatro parâmetros do som. Nesse período, não se preocupe em ensinar a notação musical para as crianças. Explore jogos como, por exemplo, "morto-vivo", em que as crianças levantam quando escutam sons agudos e abaixam quando escutam sons graves; cante muito com os alunos; de preferência, toque instrumentos de verdade com eles - piano, violão, flauta doce ou instrumentos de percussão disponíveis na escola; organize brincadeiras de roda e associe à música a outras linguagens, como a da dança, por exemplo.


No 2º ano, você pode explorar melodias mais complexas no canto, pois a turma já será capaz de acompanhar as letras das canções. A voz carrega muitos elementos da linguagem musical.


Dicas para as atividades de percepção das variações sonoras

- Quando for cantar, procure usar um tom de voz suave e não muito grave, pois nessa fase, a voz das crianças tende ao agudo. Também evite usar expressões como "cantem mais alto", porque isso costuma levar às crianças a gritar e o que queremos é, justamente, que elas percebam o limite entre música e barulho.

- Proponha jogos de "maestro e orquestra" com as crianças, em que gestos corporais combinados com o grupo determinam o ritmo do que deve ser cantado ou tocado. Primeiro, você faz às vezes de maestro e depois propõe uma troca com os alunos para que cada um deles exerça essa função e comande os movimentos e sons produzidos pela turma.

- Explore os sons dos objetos da sala de aula: os sons da batida de um lápis no metal das carteiras é mais grave ou mais agudo que o som da batida das mãos na madeira da porta?

- Sempre que trabalhar com instrumentos, especialmente os de percussão - triângulos, clavas, chocalhos, caxixis, tambores etc. -, faça uma roda com os alunos. Assim, fica mais fácil para que eles percebam como devem manusear os instrumentos e para que possam ouvir uns aos outros.


- Leve em conta o que as crianças já sabem para ampliar o repertório da turma e procure saber que instrumentos elas já conhecem. Sempre que possível, utilize instrumentos de verdade nas aulas. Caso contrário, faça com que os alunos tenham acesso a gravações com o som dos instrumentos. Para trabalhar os conceitos de forte/fraco, grave/agudo e lento/rápido, você também pode construir alguns dispositivos sonoros, como veremos a seguir.


Construção de dispositivos sonoros

Ter instrumentos de verdade na escola é um passo fundamental para que se elabore um bom projeto de formação musical dos alunos. Em 2010, o Ministério da Educação (MEC) distribuiu kits com instrumentos musicais para mais de 1800 escolas públicas, com recursos do programa Mais Educação. Caso sua escola ainda não tenha sido contemplada, informe-se com o diretor escolar ou com as Secretarias de Educação sobre os procedimentos indicados para solicitar os instrumentos.

Mas, é possível construir com os alunos dispositivos sonoros, cujo objetivo é demonstrar os quatro parâmetros do som. Trabalhe com esses objetivos propondo algumas sequências rítmicas.

Chocalhos feitos com garrafas pet ou latas e diferentes tipos de grãos (como arroz, feijão ou grãos de areia) servem para demonstrar sons mais graves ou mais agudos; tambores de lata ou feitos com galões de água, recobertos com pedaços de feltro ou bexigas, também geram variações sonoras interessantes. Um par de clavas pode ser construído com pedaços de um cabo de vassoura ou duas colheres de pau que devem ser batidas uma contra a outra, para trabalhara a noção de pulsação (o pulso, a "batida" da música). Os alunos podem, ainda, produzir uma baqueta ao colocar uma borracha ponteira no lápis.

Link Original: http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/musica-1o-2o-anos-640283.shtml?page=3.3


3.4 Improvisos e composições

Nas séries iniciais a voz e o corpo são os principais instrumentos de aprendizagem

No 1º e no 2º ano os alunos precisam compreender a música enquanto linguagem dotada de sentido e capaz de evocar as nossas emoções. Por isso, as ações de produção musical - tocar, cantar, compor, improvisar, dançar conforme a música - são imprescindíveis no planejamento das aulas dessa modalidade artística.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, "nas produções musicais em sala de aula, é importante compreender claramente a diferença entre composição e interpretação. Numa canção, por exemplo, elementos como melodia ou letra fazem parte da composição, mas a canção só se faz presente pela interpretação, com todos os demais elementos: instrumentos, arranjos, características interpretativas, improvisações etc.". Para que o aluno consiga expressar elementos da linguagem musical, portanto, ele precisa tomar diferentes interpretações como referência, e precisa de tempo para se desenvolver por meio delas, até que adquira condições para incorporar a canção com todos os seus elementos. Espera-se com isso que as crianças consigam, progressivamente, traduzir simbolicamente realidades interiores (impressões, emoções, sensações) por meio da música.

Ou seja, para que consigam compor sequências rítmicas, interpretar canções ou até mesmo improvisar sobre elas, é necessário que as crianças entrem em contato com um vasto repertório musical, de diferentes épocas e lugares; consigam apreciar as músicas que escutam e percebam os elementos que estruturam os sons na música.


A professora Vivian Agnolo Barbosa, da Alecrim Dourado Formação Musical, em Curitiba, indica a elaboração de jogos musicais cumulativos para trabalhar a improvisação com os alunos: sentados em roda, os alunos devem eleger um colega para começar o jogo. Este aluno deve, então, criar uma pequena célula rítmica e executá-la usando o corpo (bater duas palmas, por exemplo). A próxima criança na roda deve repetir o ritmo elaborado pelo colega e acrescentar a ele uma nova célula rítmica. O jogo segue até que todos os alunos da roda ampliem a sequência rítmica e consigam executá-la. O seu papel é orientar as crianças, e propor desafios que estimulem a criatividade.

As atividades de canto também estão presentes na rotina. Para além das canções ensaiadas para as datas comemorativas, explore com os alunos o repertório de cirandas, parlendas, músicas do folclore regional e do repertório popular brasileiro. No 1º ano aposte em melodias simples e em letras que possam ser facilmente decoradas pelos alunos. No 2º ano, você pode propor canções com letras mais longas e melodias mais complexas. Com os conceitos de grave/agudo, lento/rápido e fraco/forte bem fixados, proponha interpretações com a voz e com o corpo (bater palmas, estalar os dedos, bater os pés do chão etc.) que explorem, também, nuances entre esses elementos - os sons meio fortes, ou meio fracos, por exemplo.

Por fim, as composições também podem ser feitas por meio de escritas combinadas - uma sequência de círculos, triângulos e quadrados, por exemplo, em que círculos representam duas palmas, triângulos representam um pulso da sequência em silêncio e quadrados indicam a repetição de uma frase cantada. Isso faz com que as crianças comecem a compreender por que precisam das notas e qual a lógica da notação musical formal - que será trabalhada somente a partir 3º ano, quando as crianças começam a trocar as ações musicais feitas com a voz e com o corpo, para a produção musical em instrumentos cada vez mais complexos (como a flauta doce, por exemplo).

Link Original: http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/musica-1o-2o-anos-640283.shtml?page=3.4



 

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