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8.4 Ensino de música com Carmen Miranda
Professora Ana Cristina Santos de Paula, vencedora do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 em 2010.
Escola Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro.
Anos 6º ano.
O que ela fez Ana Cristina queria que todos os seus alunos avançassem na execução musical na flauta doce. Ao trabalhar a história da cantora Carmen Miranda e a função do refrão, muito comum no cancioneiro popular, ela conseguiu fazer com que todos os alunos avançassem no uso do instrumento e conhecessem uma personagem da MPB.
O que ela trabalhou Apreciação e audição; música, cultura e repertório; história da música; execução de instrumentos.
Conheça o trabalho desenvolvido pela professora Ana Cristina Santos de Paula, vencedora do Prêmio Victor Civita 2010. Ela aproveitou o centenário de Carmen Miranda para ajudar os alunos do 6º ano na aprendizagem de flauta doce e ampliação do repertório musical.
Com músicas de Carmen Miranda, a turma toda aprende o que é refrão e a tocar
Ao trabalhar a história da cantora e a função do refrão, muito comum no cancioneiro popular, professora Nota 10 do Rio de Janeiro conseguiu fazer com que todos os alunos avançassem no uso da flauta doce e conhecessem uma personagem da MPB
Anderson Moço (novaescola@atleitor.com.br) e Ana Rita Martins, do Rio de Janeiro, RJ
MÚSICA PARA OUVIR Ana Cristina e Carmen Miranda ampliam o repertório da turma
Um bom exemplo de trabalho nessa área - e que pode ser replicado em outras cidades do país - vem do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. A professora Ana Cristina Santos de Paula desenvolveu lá um projeto didático com alunos do 6º ano tendo como tema o centenário de nascimento de Carmen Miranda (1909-1955) e como foco de ensino a flauta. "Com isso, ela pode ampliar o repertório da turma com canções que ajudaram a construir o que chamamos de Música Popular Brasileira e trabalhar com a técnica musical e as definições de conceitos", explica Rosa Iavelberg, docente da Universidade de São Paulo (USP) e selecionadora da área de Arte do Prêmio Victor Civita. O trabalho rendeu a Ana Cristina o Prêmio Educador Nota 10 (veja como se inscrever no prêmio).
O ponto de partida do trabalho foi um diagnóstico. A intervenção mostrou que alguns alunos já tinham noções musicais e sabiam tocar um pouco de flauta, enquanto outros nunca tinham estudado música.
"Essa é uma situação que vai se repetir com frequência nas salas de aula de todo o país a partir do ano que vem e os professores vão ter de aprender a lidar com ela", diz Teca Alencar de Brito, professora do Departamento de Música da USP. Sabendo dessa heterogeneidade, Ana Cristina planejou um trabalho que permitiu a criação de atividades com níveis de complexidade diferentes para atender às necessidades de aprendizagem de todos, dos iniciantes aos mais experientes (leia a sequência didática).
As canções de Carmen Miranda são de fácil memorização e fazem parte do cancioneiro popular brasileiro, por isso são adequadas para o tipo de trabalho planejado por Ana Cristina. "Eu precisava eleger músicas que fossem ao mesmo tempo motivadoras para os alunos experientes e possíveis de serem tocadas pelos iniciantes." A professora estudou o repertório da cantora para encontrar marchinhas e sambas que atendessem a seu objetivo didático. As canções Ta-hí (Pra Você Gostar de Mim), Cai-Cai e Alô, Alô foram selecionadas por possuírem refrãos possíveis de serem executados com facilidade na f lauta doce e possibilitarem a aprendizagem de posições que devem ser ensinadas no 6º ano, de acordo com o currículo do colégio. "Defini que os alunos iniciantes deveriam tocar apenas os refrãos, mas os mais experientes tocariam as canções inteiras", explica Ana.
Com base em Ta-hí (Pra Você Gostar de Mim), a professora introduziu o conceito de refrão. Todos cantaram a música e ela perguntou se a turma sabia como se chamava o trecho que se repetia constantemente. As ideias discutidas foram anotadas no quadro e, por fim, todos concluíram: o refrão é um recurso antigo que faz com que a repetição constante de determinada estrofe facilite espontaneamente a memorização auditiva. Ele aparece com frequência na música popular, principalmente na marcha carnavalesca, e geralmente resume a ideia principal. Assim, foi possível trabalhar com um conceito importante da área.
Deixar a turma à vontade para criar mesmo sem técnica
Em outra etapa, Ana Cristina distribuiu instrumentos de percussão para que os alunos criassem um acompanhamento para a marcha. O padrão rítmico deveria ser diferente na hora em que o refrão aparecesse. Esse foi um momento importante, pois Ana Cristina conseguiu deixá-los criar música de maneira experimental, testando as melhores formas de execução. "É fundamental articular momentos de prática, reflexão e análise, de ampliação de repertório e de recriação de formas. Não adianta apenas ensinar a técnica para depois pedir que toquem repetidamente a mesma música. Os estudantes precisam ser estimulados a inventar, improvisar, fazer variações, enfim, a experimentar musicalmente, mesmo que ainda não dominem a técnica", afirma Tiago Madalozzo, professor do curso de Educação Musical da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O próximo passo foi apresentar Cai- Cai. Eles realizaram os mesmos procedimentos utilizados na música Ta-hí (Pra Você Gostar de Mim), mas Ana Cristina lançou dois desafios: será que seriam capazes de executar na flauta doce o refrão da música? Será que conseguiriam apresentá-la para colegas de outras salas? A ideia era aproximar a turma da técnica de uma forma parecida com a usada por músicos populares. "Eles vivenciam a experiência imediata no instrumento. O aprimoramento técnico vai ocorrendo simultaneamente à execução, já realizada dentro do andamento da música", explica a professora.
A professora registrou, de maneira tradicional, no quadro, a grafia de altura do refrão (escrevendo as notas no pentagrama), mas não grafou a duração (ou seja, o ritmo), pois se a partitura fosse escrita na íntegra seria ainda inacessível à maioria dos alunos. Dessa forma, todos conseguiam realizar a leitura, utilizando a partitura como referência para a execução. Ana Cristina tocava o acompanhamento no teclado e um grupo fazia a percussão. Os alunos também aprenderam a cantar o samba-enredo Alô, Alô Taí Carmen Miranda, apresentado pela Escola de Samba Império Serrano em 1972, e discutiram sua letra, que usa o refrão de Cai-Cai e faz referências à biografia da cantora. Isso serviu de base para novas discussões em sala de aula sobre a artista e seu trabalho internacional.
Depois, o samba Alô, Alô foi o foco dos ensaios, ao lado da marcha Cai-Cai. Parte da turma executava o refrão na flauta, enquanto outra fazia a percussão. Eles decidiram também que uma bateria que tocasse suavemente poderia dar um efeito melhor ao acompanhamento percussivo, que estava desorganizado, muito forte e não dava destaque à melodia. Intuitivamente, a turma estava elaborando um arranjo. Essa foi mais uma oportunidade aproveitada para discutir um conceito importante da área: o que é e qual a função de um arranjo. "Os jovens precisam aprender a escutar para só depois identificar e nomear. Eles vão tomar consciência dos conceitos na medida em que os conhecerem e refletirem sobre eles. A aprendizagem se dá por meio do contexto", conta Teca.
Após tantos ensaios, os estudantes estavam prontos para se apresentar em público. Além das canções, eles prepararam um breve resumo da história da artista, dividindo com a comunidade escolar o que tinham aprendido em suas pesquisas. O resultado do projeto foi positivo: os alunos conheceram um repertório extraído de um contexto cultural real e historicamente importante e compartilharam o prazer de fazer música juntos, respeitando seus ritmos individuais de aprendizagem e seus saberes anteriores.
Eles também não desenvolveram apenas a técnica da flauta doce, mas criaram novos parâmetros de qualidade musical e se reconheceram como verdadeiros "fazedores de música", como disse um dos alunos da professora Ana Cristina.
O que a turma pergunta
Eu não sei tocar direito. Preciso mesmo participar?
É comum alguns alunos se sentirem inseguros para executar músicas na flauta quando estão em estágios iniciais de aprendizagem. Isso não quer dizer que eles podem ficar de fora do trabalho. O ideal é tentar propor seções de ensaio específico para eles, nas quais você poderá discutir o que é tocar bem ou não e mostrar que cada artista tem linguagem e características específicas. O fundamental é dar mais atenção e ajudá-los a se desenvolver dentro de suas capacidades. Outra possibilidade é indicar uma função diferente a alunos mais receosos. Eles podem ensaiar a música marcando o tempo ou criar um acompanhamento rítmico percussivo.
Passo a passo: da pesquisa à execução das músicas
O projeto de Ana Cristina envolveu os alunos na busca por informações e na escolha das formas que as canções seriam tocadas na apresentação final para a comunidade
1. Investigação
A professora apresentou Ta-hí (Pra Você Gostar de Mim) e pediu que a turma pesquisasse quem gravou essa marchinha.
A professora apresentou Ta-hí (Pra Você Gostar de Mim) e pediu que a turma pesquisasse quem gravou essa marchinha.
2. Apreciação
Ana Cristina pôs algumas canções da artista para tocar. Os alunos cantaram e tocaram em partituras adaptadas.
Ana Cristina pôs algumas canções da artista para tocar. Os alunos cantaram e tocaram em partituras adaptadas.
3. Prática
Ela pediu que os menos avançados ensaiassem apenas o refrão e os mais experientes tocassem a música toda.
Ela pediu que os menos avançados ensaiassem apenas o refrão e os mais experientes tocassem a música toda.
Quer saber mais?
Link Original: http://revistaescola.abril.com.br/arte/pratica-pedagogica/musica-historia-carmen-miranda-flauta-doce-632391.shtml?page=0
Confira o portfólio organizado pela professora Ana Cristina
Link: http://revistaescola.abril.com.br/arte/portfolios/ensino-musica-centenario-carmen-miranda-606045.shtml
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