foto: GINGA AFRICANA Dançando o coco, a turma
da CEI Santa Escolástica vivencia os sons
afro-brasileiros. Fotos: Marcelo Min
da CEI Santa Escolástica vivencia os sons
afro-brasileiros. Fotos: Marcelo Min
As crianças, você sabe, encontram na brincadeira uma poderosa ferramenta de experimentação e conhecimento. Em geral, adoram música e dança. Era assim com os pequenos da pré-escola do CEI Santa Escolástica, na capital paulista. Atenta a essa empolgação, a professora Luciana do Nascimento Santos fez o óbvio: pôs a meninada para tocar, cantar e dançar. Mas foi além. Primeiro, estabeleceu um foco para sua atuação, explorando influências da cultura africana com o aprendizado de instrumentos como agogô, caxixi e alfaia e de danças como jongo, maracatu e coco. Em segundo lugar, encarou essas práticas como meios de pesquisa cultural, conduzindo a turma na descoberta da história da África e suas ligações com o Brasil.
O resultado desse trabalho rendeu à professora o troféu de Educadora Nota 10 do Prêmio Victor Civita de 2008. "O que me entusiasmou foi o fato de os pequenos terem aprendido muito sobre a África ao fim do projeto", afirma Karina Rizek, coordenadora de projetos da Escola de Educadores, em São Paulo, e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. "Além disso, Luciana colheu os frutos de ter apostado na capacidade artística da meninada. Nunca vi crianças daquela idade dançando e tocando tão bem."
O resultado desse trabalho rendeu à professora o troféu de Educadora Nota 10 do Prêmio Victor Civita de 2008. "O que me entusiasmou foi o fato de os pequenos terem aprendido muito sobre a África ao fim do projeto", afirma Karina Rizek, coordenadora de projetos da Escola de Educadores, em São Paulo, e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. "Além disso, Luciana colheu os frutos de ter apostado na capacidade artística da meninada. Nunca vi crianças daquela idade dançando e tocando tão bem."
Pesquisar em fontes variadas para conectar Arte e História
Resultados tão impressionantes não surgem por acaso. Para que a música e a dança se tornem objetos de pesquisa - e conduzam, de fato, ao alargamento do repertório cultural da turma -, você não deve se restringir apenas ao ensino dos instrumentos e movimentos rítmicos (leia a sequência didática). O.k., o desenvolvimento dessas habilidades específicas não fica de fora (vamos falar sobre isso mais adiante). Mas é preciso, ainda, estimular pesquisas que levem a garotada a entender as raízes culturais das práticas artísticas. Nessa perspectiva, algumas perguntas fundamentais, que podem vir junto à apresentação de danças e instrumentos escolhidos, são: de que países eles vêm? Como estão ligados às condições de vida do grupo estudado?
foto: OS SONS DE CADA UM Batucando no próprio corpo, as crianças conhecem aspectos básicos de ritmo
Das respostas, surgem as pistas para prosseguir na atividade. Escolher o material de acordo com a faixa etária é essencial para a ampliação do conhecimento. Como em todos os projetos de pesquisa, vale investir na diversidade de fontes. Na Educação Infantil, o ideal é que livros e revistas tenham figuras ricas em detalhes, mas incluam também pequenos textos e legendas para desde cedo promover o contato com a escrita. Rodas de conto que focalizem lendas e histórias sobre o país estudado (e, se possível, em que a dança e a música também sejam contempladas) são opções interessantes.
Para ensinar a cantar e dançar, instrumentos de verdade
VER PARA CRER (à esq.) Revistas e livros com muitas imagens permitem a exploração sobre outras culturas e MÚSICA DE PRIMEIRA (à dir.) Com estudo e instrumentos de qualidade, a turma toca percussão para valer.
Se o trabalho de ampliação cultural guarda semelhanças com a pesquisa em outras áreas, a tarefa de ensinar a tocar instrumentos e a dançar exige um conhecimento específico. O exemplo de Luciana dá a dimensão do esforço: durante dois anos, ela fez cursos e participou de oficinas para aprender as danças e os ritmos que queria ensinar na sala de aula. A professora aprendeu, por exemplo, que os instrumentos de percussão são os mais indicados para trabalhar na Educação Infantil, já que não exigem a compreensão das notas musicais. Também descobriu que a qualidade do som é diretamente proporcional à do equipamento. Portanto, nada de pandeiros, tambores e batuques "de mentirinha", desses de lojas de bugigangas. O investimento é maior, mas o resultado final compensa.
Já o trabalho prévio à execução musical tem custo zero. A marcação, atividade essencial para compreender o ritmo, exige apenas que o professor cante. Você pode orientar os pequenos a bater palmas para acompanhar uma música, ressaltando os intervalos regulares que compõem o ritmo. Em seguida, entra em cena a percussão corporal. Ao pedir a cada criança que faça um barulho com uma parte do corpo (mãos batendo nas pernas, pés batendo no chão e sons com a própria boca), você mostra que o próprio corpo pode ser produtor de ruídos.
Na dança, antes de mergulhar no ensino dos passos das modalidades escolhidas, as marcações com os pés e as mãos também são essenciais para que a turma perceba que elas estabelecem uma intensa conversa com o ritmo. Não se esqueça, porém, de que apenas ensinar a tocar e dançar restringe a riqueza do trabalho. Luciana entendeu o recado. Ciente do papel da cultura nas práticas artísticas, aproveitava para relembrar a todo momento a origem dos instrumentos e da dança, fazendo a turma entender o real significado do som e da ginga que vivenciavam na escola.
Construindo a ponte Brasil-África passo a passo
foto:
Já o trabalho prévio à execução musical tem custo zero. A marcação, atividade essencial para compreender o ritmo, exige apenas que o professor cante. Você pode orientar os pequenos a bater palmas para acompanhar uma música, ressaltando os intervalos regulares que compõem o ritmo. Em seguida, entra em cena a percussão corporal. Ao pedir a cada criança que faça um barulho com uma parte do corpo (mãos batendo nas pernas, pés batendo no chão e sons com a própria boca), você mostra que o próprio corpo pode ser produtor de ruídos.
Na dança, antes de mergulhar no ensino dos passos das modalidades escolhidas, as marcações com os pés e as mãos também são essenciais para que a turma perceba que elas estabelecem uma intensa conversa com o ritmo. Não se esqueça, porém, de que apenas ensinar a tocar e dançar restringe a riqueza do trabalho. Luciana entendeu o recado. Ciente do papel da cultura nas práticas artísticas, aproveitava para relembrar a todo momento a origem dos instrumentos e da dança, fazendo a turma entender o real significado do som e da ginga que vivenciavam na escola.
Construindo a ponte Brasil-África passo a passo
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RAÍZES CULTURAIS Para ampliar o conhecimento sobre a África, Luciana recorreu à leitura de contos locais.
Quando pequena, a professora paulistana Luciana do Nascimento Santos ouvia, maravilhada, o pai tocar sanfona. O amor pela música cresceu junto com a menina. Hoje, aos 26 anos, trabalhando com os pequenos na Educação Infantil há nove, transforma os sons em aprendizagem. Em seu projeto na CEI Santa Escolástica, na favela de Paraisópolis, na capital paulista, as crianças passaram a tocar caxixi, agogô, alfaia e pandeiro e a dançar coco, maracatu e jongo. Tudo aliado a uma extensa pesquisa sobre as relações entre Brasil e África, diferencial que rendeu elogios da equipe selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.
Objetivos Trabalhando durante seis meses com crianças de 5 e 6 anos, Luciana levou-as a reconhecer a influência cultural africana na cultura brasileira. Ao investigar e aprender manifestações culturais - especialmente a dança e a música -, elas aumentaram seu repertório e passaram a valorizar essas contribuições.
O passo a passo A sequência didática de ampliação cultural é de tirar o fôlego: incluiu o uso do globo terrestre (para localizar o Brasil, a África e a distância geográfica que os separa), a leitura de reportagens, textos e de um dicionário de palavras africanas, rodas de conversa e de contos africanos, visita de especialistas, idas ao museu e a confecção de um painel fotográfico com as informações aprendidas. Para ensinar música, Luciana ofereceu inicialmente instrumentos caseiros feitos com embalagens descartáveis e sucata. Assim que os pequenos perceberam os sons e aprenderam a usar cuidadosamente os objetos, eles puderam explorar os instrumentos profissionais. Depois que cada um escolheu o seu, a professora sugeriu que todos acompanhassem músicas gravadas para aprimorar o ritmo e a visão de conjunto. No caso da dança, as marcações serviram de base para o ensino dos passos, apoiado posteriormente em DVDs específicos.
Avaliação
A professora analisou a evolução da compreensão nas situações de leitura de imagens e de contos africanos. A avaliação do trabalho de ampliação cultural atentou para a evolução da capacidade das crianças em pesquisar - escolhendo fontes, coletando material e sintetizando-o. No caso da música e da dança, Luciana privilegiou não apenas o conhecimento específico mas também o trabalho em grupo, sem se preocupar se estavam todos tocando ou dançando bem. "Tocar e dançar são atividades lúdicas por natureza. Não se pode perder isso de vista, principalmente na Educação Infantil", explica.
Quer saber mais?
CONTATOS
CEI Santa Escolástica, R. Itapanhaú, 170, São Paulo, SP, 05665-060, tel. (11) 3742-0399
Karina Rizek
Luciana do Nascimento Santos
BIBLIOGRAFIA
Música na Educação Infantil, Teca Alencar de Brito, 204 págs., Ed. Peirópolis, tel. (11) 3816-0699, 46 reais .
CEI Santa Escolástica, R. Itapanhaú, 170, São Paulo, SP, 05665-060, tel. (11) 3742-0399
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Luciana do Nascimento Santos
BIBLIOGRAFIA
Música na Educação Infantil, Teca Alencar de Brito, 204 págs., Ed. Peirópolis, tel. (11) 3816-0699, 46 reais .
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