sábado, 20 de outubro de 2012

Educação Musical: Série Pedagogias: Villa-Lobos 2

Na postagem de hoje trago a fala de um de nossos maiores compositores: Heitor Villa-Lobos.


" A música folclórica é a expansão, o desenvolvimento livre do próprio povo expresso pelo som".






Educação Musical: Série Pedagogias: Villa - Lobos


 
Villa_Lobos_02

por Guilherme Nascimento/ilustração por João Marcelo Guimarães


Dotado de grande poder de observação e criatividade ímpar, Villa-Lobos sempre soube, ao longo da vida, construir as ferramentas necessárias às suas necessidades. Nosso maior compositor e um dos educadores musicais de maior projeção no país foi homem com poucos antecedentes escolares, praticamente um autodidata. Quando retornou da Europa, em 1930, ele percebeu, com clareza, as deficiências musicais do povo brasileiro e se engajou na tarefa de disseminar um programa de educação musical de massa por todo o país.


As escolas públicas do estado de São Paulo haviam implantado, em 1912, um programa de educação musical de grande sucesso. Tratava-se do canto orfeônico, uma modalidade de alfabetização musical exercida através da prática do canto coral, originada na França nos anos 1830. O exercício do canto orfeônico visava contribuir para uma educação musical mais abrangente, em oposição ao ensino especializado dos conservatórios musicais. Com a adesão de Villa-Lobos ao programa educacional paulista, em 1931, o canto orfeônico ganharia um impulso jamais imaginado no país.
Mas para que seu projeto pudesse ser realizado seria necessário associar-se ao Governo Federal. Com a aliança, Villa-Lobos disseminaria o canto orfeônico por todo o Brasil e Getúlio Vargas ganharia um programa de doutrinação patriótica monumental. De mera atividade artística e educacional, o projeto original acabou tornando-se, também, instrumento de disciplina e patriotismo.


Dentre as suas realizações, Villa-Lobos propiciou a instrução musical e a prática coral a milhões de crianças Brasil afora; ajudou a disseminar a música folclórica e indígena através de arranjos e composições próprias; criou um coro dos professores de canto orfeônico; publicou o Guia Prático, uma obra em seis volumes contendo inúmeros exemplos musicais, de cantos indígenas aos clássicos da literatura universal; promoveu concertos em estádios de futebol com grandes massas populares; apresentou inúmeros programas radiofônicos educacionais destinados às crianças; empreendeu esforços para promover a música brasileira e torná-la mais conhecida no Brasil mediante uma série de concertos destinados aos jovens; fundou o Conservatório do Canto Orfeônico que promovia, além de suas funções educacionais, a pesquisa musicológica e a gravação de obras brasileiras com fins educacionais; criou a biblioteca do Conservatório, que abrigava obras musicais brasileiras e promovia a música brasileira do presente e do passado; e conseguiu que o ensino musical se tornasse obrigatório nas escolas brasileiras.


A despeito das críticas que a aliança com Getúlio Vargas gerou, Villa-Lobos nutria o verdadeiro desejo de elevar o nível cultural do país. Ao ensinar música às crianças ele imaginava, no futuro, um povo mais educado, mais sensível, mais disciplinado, com mais respeito pelo país e sua herança cultural, mais consciente da diversidade de sua população, de sua história e de suas manifestações artísticas


Link Original: http://educacaomusical.net/?p=720

Dicas: História das brincadeiras indígenas


Objetivos 

- Reconhecer a diversidade de grupos indígenas da América Latina.
- Conhecer os tipos de brincadeira indígena.
- Comparar o próprio modo de vida com o de crianças indígenas.

 Conteúdos 

- Povos da América Latina.
- Diversidade cultural.

 Anos
2º ao 4º.

 Tempo estimado
Três aulas.

 Material necessário
Folhas de jornal ou de papel crepom colorido, barbante ou elástico.

Desenvolvimento

1ª etapa

Comece o trabalho explicando que o propósito é conhecer como brincam diferentes grupos de crianças na América Latina. De início, mostre imagens de brincadeiras em países dessa região, debatendo as semelhanças entre elas. Nesse ponto, é importante enfatizar dois aspectos. Primeiro: apesar de as comunidades indígenas serem muito diferentes, na maioria delas predominam as brincadeiras junto à natureza, principalmente nos rios. Segundo: os brinquedos são feitos de materiais retirados da floresta. Comente ainda que, em boa parte das atividades, os pequenos brincam em grupos e sem competir, aprendendo diversas práticas do cotidiano. Finalize essa etapa pedindo aos alunos que discutam sobre as diferenças e semelhanças em relação às próprias brincadeiras.

2ª etapa

Pergunte se conhecem uma peteca e se sabem usá-la. Proponha, então, que façam uma em sala. Comece amassando uma folha de jornal, formando uma bola achatada. Coloque-a no centro de outra folha, deixando as pontas soltas. Torça a folha na altura da bola e amarre com um barbante ou elástico. Se quiser, pinte com tinta guache. Com o brinquedo pronto, combine com o professor de Educação Física um jogo com a turma. De volta à classe, mostre que a palavra "peteca" vem de péte ka, de origem tupi, nome de um brinquedo feito pelos indígenas com palha seca de milho. É essencial explicar que o tupi era a língua falada em todo o litoral do Brasil até o século 18 e que inúmeras palavras dela foram incorporadas ao português. Por último, conte que, em Minas Gerais, o jogo de peteca é um esporte reconhecido e muito praticado, destacando a influência indígena na nossa cultura.

Avaliação

Proponha que os alunos produzam um texto curto que identifique a influência indígena na nossa cultura, com base em uma das brincadeiras que eles conheceram. O texto pode ser incrementado por meio da comparação com algum jogo que eles veem como semelhante aos dos indígenas. Avalie se a turma incorporou a compreensão de que esses povos não são homogêneos, mas diferentes em termos de cultura, língua e práticas sociais.


Consultoria: Daniel Vieira Helene
Coordenador pedagógico do Centro de Estudar Acaia Sagarana
 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Músicos ouvem melhor e têm memória mais afiada na terceira idade

Estudo mostrou que eles diferenciam mais facilmente palavras em meio a barulhos quando comparados a não músicos.


Alessandro Greco, especial para o iG | 11/05/2011 18:01


Foto: Getty Images Ampliar
Músicos na terceira idade: vantagens em relação à audição e memória

 
O aprendizado de um instrumento musical na infância e a prática de tocá-lo durante a vida adulta pode trazer vantagens na terceira idade. Em especial, parece ser importante para distinguir palavras em meio a diferentes tipos de barulho e também para lembrar delas. Ao menos é o que mostrou uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (11) no periódico científico PloS One. “Já sabíamos que a experiência musical tinha um efeito profundo em nosso sistema nervoso e em como processamos os sons em nosso dia a dia. O que não sabíamos – e foi surpreeendente – é que isto persiste com a idade”, afirmou ao iG Nina Kraus, principal autora do artigo, da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos.
O estudo avaliou a habilidade de 18 músicos e 19 não músicos, com idades entre 45 e 65 anos, em ouvir palavras em meio a outros tipos de barulhos, a capacidade de lembrar de sons e de processá-los e a memória visual.
 
Em todos eles, menos na memória visual, os músicos se saíram melhor do que os não músicos – na área visual os resultados dos dois grupos foi praticamente igual. “A forte relação entre sons, memória e a habilidade processamento auditiva mostra como [a capacidade de] ouvir envolve a integração de processos cognitivos e sensoriais. [...]”, explicou Nina. A descoberta está em linha com outros trabalhos que mostram que adultos com a mesma capacidade auditiva podem apresentar grandes diferenças na capacidade de ouvir palavras em meio a barulhos.


O próximo passo da pesquisa será começar a entender os mecanismos biológicos que levam ao fortalecimento dessas conexões nos músicos. “Sabemos que em jovens adultos a experiência musical afeta a forma que o sistema nervoso processa elementos sonoros específicos que são importantes para a fala. Qual é este processo nos adultos mais velhos? [..], afirmou Nina.


O uso de música na escola é outra das áreas de estudo de Nina. Para ela, o treino musical aprimora o sistema nervoso. “Temos examinado também os efeitos da educação musical nas escolas. Queremos determinar os efeitos dela no sistema nervoso , em como o cérebro processa os sons, e no resultado do aprendizado, durante o desenvolvimento da leitura, da escuta, da atenção e da memória”, explicou ela.

Link Original: http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/musicos+ouvem+melhor+e+tem+memoria+mais+afiada+na+terceira+idade/n1596945223376.html

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Dicas: Leia para uma criança... peça sua coleção gratis!



Entenda

Ler para uma criança é um gesto simples e muito importante. Por meio dele, contribuímos para a educação, a cultura e o lazer das crianças e ajudamos a mudar para melhor o futuro do Brasil.
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    Crianças que ouvem a leitura de histórias aprendem melhor, desenvolvem a capacidade de se expressar e se comunicar com os outros.
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    Quando um adulto lê para uma criança oferece a ela o acesso à cultura, ao lazer e à educação. Além disso, a leitura aproxima o adulto e a criança e possibilita que compartilhem bons momentos.
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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Música para 1º e 2º anos: 8.1 Alunos descobrem música de qualidade

Atenção: Leia as postagens na ordem do roteiro didático no menu Música para 1º e 2º anos: Revista Nova Escola a direita da tela. 

Alunos descobrem música de qualidade

Em uma audição inesquecível, uma turma de 2ª série descobre a qualidade da boa música e começa a adquirir o senso crítico capaz de afastá-la do lixo cultural a que é submetida diariamente

Ricardo Falzetta (novaescola@fvc.org.br)
 
 
A professora Daniela Neves e seus alunos na Sala São Paulo: música de qualidade. Foto: Marie Ange Bordas
A professora Daniela Neves e seus alunos na
Sala São Paulo: música de qualidade.
Foto: Marie Ange Bordas
 
Durante três meses, no segundo semestre de 2005, alunos de 2ª série de uma escola de São Paulo viveram uma situação rara na Educação pública brasileira, experiência que os marcará para o resto da vida. Eles tiveram aulas regulares de música. A iniciativa merece ainda mais destaque por se tratar de um grupo de estudantes da EMEF Professora Maria Berenice dos Santos, no extremo sul da cidade, região em que o acesso aos meios culturais se restringe ao rádio e à TV. "Eram crianças com um repertório limitado ao que é oferecido pela mídia de massa. Não conheciam cantigas populares e muito menos a música erudita", conta a professora Daniela da Costa Neves, 25 anos, autora do projeto com o qual foi eleita Educadora Nota 10 no Prêmio Victor Civita 2006.
Mais sobre música

 
Ao longo das atividades, as crianças aprenderam conceitos básicos de apreciação musical, como o reconhecimento de instrumentos e respectivos timbres, notas e suas alturas (mais graves, mais agudas), rítmica e formas básicas de composição. O desfecho do projeto foi uma inesquecível visita à Sala São Paulo, uma das principais casas de concerto do mundo. Nesse dia, as crianças acompanharam uma apresentação didática de seis obras executadas pela Orquestra Sinfônica de Santo André (antes ou depois de reger a música, o maestro dá explicações, mostra instrumentos, conta rápidas histórias sobre o compositor ou a obra, pede que cada músico toque seu instrumento para as crianças identificarem o som).

Para "tocar" as atividades desenvolvidas anteriormente em sala de aula, Daniela valeu-se da formação que tem em Educação Artística com habilitação em Música. "Mas tudo o que fiz pode ser feito também por professores leigos no assunto", assegura ela. "O diferencial do projeto da Daniela é o planejamento", atesta Marisa Szpigel, formadora de professores de Arte e selecionadora do Prêmio Victor Civita em 2006. "Ela se preparou para cada ação e estabeleceu objetivos claros e compartilhados com os alunos. Eles sabiam, desde o início, aonde iriam chegar." (Leia mais sobre a seleção no quadro.)

A base do trabalho foi o programa mantido pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), que tem por missão formar público ouvinte de música erudita (e professores do Ensino Fundamental para a Educação Musical). Daniela realizou todas as atividades propostas pela Osesp e subiu um degrau a mais. Ela explorou conceitos de composição, realizou atividades sobre ritmo baseadas num trabalho de percussão corporal e de instrumentos de sucata e levou para a classe canções populares de mestres da MPB. "Meus alunos dificilmente terão a oportunidade de seguir uma carreira musical nem terão acesso a instrumentos e cursos, pois vivem numa região onde esse tipo de alimento cultural não é prioridade. Mas plantei uma semente em cada um deles", conta Daniela.

O programa de Educação Musical foi dividido em dez atividades, distribuídas em 13 aulas, que tinham duração de uma hora e meia. As tarefas intercalaram momentos de apreciação de diversas obras, produção musical, leitura de textos, escrita de relatos e confecção de desenhos.

Os sons da orquestra
Foto: Marie Ange Bordas
Foto: Marie Ange Bordas
Para diagnosticar os conhecimentos da turma, na primeira aula Daniela perguntou o que os estudantes entendiam por uma orquestra e pediu que fizessem desenhos. Entre as respostas e imagens, ficou evidente a referência a bandas populares, pois apareceram instrumentos como guitarra ou bateria, acessórios como pedestais e microfones e artistas pop, como Sandy & Júnior. A professora, então, explicou que esse tipo de formação é apenas uma entre várias outras.

Em seguida, ela propôs a leitura do livro Orquestra Tintim por Tintim, que detalha os instrumentos de uma orquestra erudita e é acompanhado de um CD que apresenta o som de cada um deles. Ao ouvi-lo com os alunos, Daniela trabalhou o conceito de timbre e pediu que identificassem sons graves e agudos.


Foto: Marie Ange Bordas
Foto: Marie Ange Bordas

As notas musicais entraram na segunda etapa. Ouvindo e depois cantando Minha Canção, escrita por Chico Buarque para o musical Os Saltimbancos, a garotada conheceu as sete notas da escala, seus nomes e suas alturas. Cada verso da música começa com o nome da nota que está sendo executada na melodia. Ao "ensaiar" a cantiga, Daniela trabalhou a afinação das crianças, a memória melódica e a leitura da letra, reproduzida num grande cartaz. Além de ouvir e cantar, os alunos fizeram exercícios acompanhados de um teclado. Conforme Daniela tocava, eles indicavam a altura com um movimento de braço. Quanto mais agudo o som, mais alto o braço.


Foto: Marie Ange Bordas
Foto: Marie Ange Bordas

O compositor norueguês Edvard Grieg (1843- 1907) foi apresentado na terceira atividade do projeto. Ouvindo a quarta parte (Na Gruta do Rei da Montanha) da composição Peer Gynt, a classe conheceu conceitos relacionados à dinâmica musical, além de ter seu primeiro contato com o repertório erudito. Depois de ouvir uma vez, Daniela colocou a música para tocar novamente e pediu que todos se movimentassem pelo pátio de acordo com o andamento e a intensidade da peça.


Foto: Marie Ange Bordas
 
Foto: Marie Ange Bordas
A sonata O Burrico de Pau, do compositor brasileiro Antonio Carlos Gomes (1836-1896), foi o tema da aula seguinte. Antes de ouvir a obra, porém, Daniela contou aos atentos alunos sobre os sons produzidos pelo cavalo galopando. Para imitar o som, convidou-os a percutir nas próprias pernas com as mãos em forma de concha - sempre tentando manter o ritmo. Em seguida, todos imitaram o som do burro com a voz.


O poema O Menino Azul, de Cecília Meireles, foi a inspiração para o grupo produzir uma história coletiva em prosa sobre um menino e seu burrinho. Finalmente, chegou a hora de ouvir a peça de Carlos Gomes, escrita para ser executada por uma formação de câmara (só com instrumentos de corda). Os alunos perceberam a diferença entre essa formação e a de uma orquestra completa (tema da aula anterior). A audição também evidenciou a qualidade do timbre dos instrumentos de corda.

Os sons do corpo

Foto: Marie Ange Bordas
Foto: Marie Ange Bordas
A atenção e a concentração dobram quando, de apreciadores, passamos a executores de uma música. Por isso, na aula seguinte a classe aprendeu uma lição simples, mas fascinante: nosso corpo pode ser uma pequena orquestra. Inspirada num curso feito com o grupo de percussão corporal Barbatuques, de São Paulo, a professora transmitiu alguns conceitos de composição. Com a turma disposta em roda, ela propôs explorar livremente os sons corporais: bater na perna, na barriga, no peito, estalar os dedos, bater palmas abertas ou fechadas, assoprar, assobiar etc. No centro da roda, Daniela colocou alguns instrumentos de percussão feitos de sucata. Em seguida, comandou a realização de uma seqüência minimal: uma criança começa uma frase rítmica e a sustenta, o colega ao lado faz outro som que combine com o anterior e também o sustenta, e assim por diante, até completar a roda.


Em seguida, Daniela dividiu a sala em grupos de cinco alunos. Cada um deveria, com base na atividade anterior, criar uma composição e registrá-la numa folha, com sinais gráficos que representassem o som produzido: linhas, pontos e outras formas geométricas que indicassem duração e natureza do som. Com isso, estabeleceu-se a relação entre os sinais produzidos pela turma e a notação musical. "Mostrei uma partitura de maestro, que traz a pauta de todos os instrumentos ao mesmo tempo", conta a professora.
Foto: Marie Ange Bordas
Foto: Marie Ange Bordas
Nas duas aulas seguintes, explorando um tema dos mais atraentes para a criançada - o circo -, o assunto foi a suíte, um tipo de composição instrumental que reúne uma série de movimentos independentes, em geral próprios para a dança. Para começar, um DVD do grupo canadense Cirque du Soleil inspirou uma conversa sobre os personagens circenses. Destaque também para a trilha sonora da apresentação (uma suíte que ajuda a sustentar, quadro a quadro, as peripécias da trupe). O próximo passo foi explorar os três primeiros movimentos (Prólogo, Galope e Marcha) da suíte Os Comediantes, do compositor armênio Dmitri Kabalevsky (1904-1987).


No segundo movimento, a turma recuperou os sons do galope de uma atividade anterior e depois imaginou que animais do circo estavam representados pela marcha. Para encerrar esse capítulo, Daniela dividiu novamente a classe em grupos de cinco e distribuiu para cada um quatro cartões com os motivos musicais. Ao ouvir novamente a composição, os alunos montaram o quebra-cabeça na ordem em que os temas aparecem na música.

Foto: Marie Ange Bordas
Foto: Marie Ange Bordas

Depois de tantas atividades e audições em CD, só faltava a música ao vivo. "Os alunos da Daniela não foram ao concerto para passear. Eles sabiam o que iam encontrar e estavam bem preparados para apreciar a música", conclui Marisa. No programa, entre outras composições, lá estavam Peer Gynt, O Burrico de Pau e Os Comediantes.


O projeto em sete etapas

1. Tintim por tintim
No diagnóstico feito por Daniela, os alunos mostraram que o conhecimento que tinham sobre música era limitado. A primeira atividade foi procurar no livro Orquestra Tintim por Tintim - e na audição do CD que o acompanha - as informações básicas sobre os instrumentos de uma orquestra e seus timbres.
2. As notas da canção
Com ajuda da música Minha Canção, de Chico Buarque, a turma conheceu as sete notas musicais. A seguir, Daniela tocou a música no teclado e os alunos, com os braços, respondiam se a nota era grave ou aguda.

3. Nos movimentos do corpo

No pátio, espaço de várias das atividades do projeto, ouvindo a música de Edvard Grieg, as crianças se movimentavam conforme o andamento e a intensidade da melodia. O exercício de percepção fez com que a turma ficasse ligada no ritmo e na dinâmica da obra.

4. O som das cordas

Com a sonata O Burrico de Pau, de Carlos Gomes, a turma conheceu um pouco da produção erudita brasileira e pôde notar a qualidade do timbre dos instrumentos de corda. Na brincadeira, um aluno com os olhos vendados devia encontrar o local certo para afixar o rabo do burro. As outras crianças ajudavam o colega, batendo palmas com mais ou menos força. Antes da audição, Daniela ensinou a imitar o som de um galope, percutindo a própria perna com as mãos em forma de concha.

5. Seqüencia minimal
No próprio corpo, ou usando instrumentos de sucata, um aluno começa uma seqüência rítmica e a mantém. O colega ao lado produz outra, que combine com a anterior. Assim por diante, o grupo, em roda, chega a uma composição, depois registrada com notações inventadas pelos alunos.
6. Uma suíte para o circo
Na audição de Os Comediantes, de Kabalevsky, o grupo identificou nos movimentos a descrição dos personagens e o som do galope e da marcha dos animais do circo. Antes, entenderam que uma suíte reúne peças independentes, em geral para serem coreografadas. Com as clavas, reproduziram a figura rítmica que faz lembrar o galope, sempre procurando manter o pulso.
7. Fechamento "de ouro"
Os alunos cruzaram a cidade até chegar à Sala São Paulo. Lá, ouviram a Orquestra Sinfônica de Santo André executar seis peças. Nos intervalos, a maestrina (que surpreendeu a turma, pois eles achavam que só havia homens nessa função) deu detalhes sobre os instrumentos. "Parece de ouro", resumiu um aluno.
 
 
Quem é Daniela


Formada em Educação Artística com habilitação em Música pela Unesp e em Pedagogia pela Uniban, Daniela da Costa Neves, 25 anos, é paulistana e sempre viveu na capital. Desde pequena, por influência do pai, teve contato com a música erudita. "Lembro-me de que, muitas vezes, a trilha sonora das minhas brincadeiras era a música clássica, que ele gostava de ouvir e que preenchia os cômodos da casa", conta. A paixão pelo Magistério também apareceu desde muito cedo. "Eu tinha uma lousinha de brinquedo. Quando chegava da escola, ficava ensinando meus alunos imaginários no quintal." Além disso, a irmã mais velha, também professora, sempre serviu de inspiração para a Educadora Nota 10. Quando entrou na faculdade, achava que faria habilitação em Teatro. Mas, ao ter contato com a teoria e a prática musicais, mudou de idéia. Saiu do curso tocando piano e violão erudito.
 
Por um ensino estruturado de Arte

A consultora de Arte Marisa Szpigel, responsável pela seleção dos trabalhos de Arte da nona edição do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10, aponta alguns pontos cruciais para o sucesso didático do projeto de Daniela. "O principal deles é que o produto final é invisível, é uma sensibilização dos alunos para uma linguagem artística. Isso é diferente do que em geral - e de forma equivocada - se espera dos trabalhos de Arte, ou seja, algo tangível, como um desenho ou uma apresentação de fim de ano", afirma Marisa. O desafio agora é fazer com que a semente plantada por Daniela cresça e frutifique. "Se esses alunos não continuarem sendo estimulados a fazer uma leitura crítica da Arte que recebem dos meios de massa, o trabalho se perde", acredita a consultora. Para que isso aconteça, ela sugere que o ensino de Arte faça parte do projeto didático da escola de maneira estruturada, contemplando as quatro linguagens artísticas: além da música, também as artes visuais, o teatro e a dança. "Elas podem aparecer ao longo das aulas em todos os anos ou podem ser concentradas em determinadas séries. O importante é que haja, a exemplo do que fez Daniela, planejamento das atividades e boa organização do tempo didático."
 
Quer saber mais?
 
CONTATOS
Daniela da Costa Neves
, dani.cone@hotmail.com

EMEF Professora Maria Berenice dos Santos, R. Barbosa Vilas Boas, 251, 04904-140, São Paulo, tel. (11) 5891-6564

BIBLIOGRAFIA
Orquestra Tintim por Tintim
, Elisa da Silva e Cunha e outros, 32 págs., Ed. Moderna, tel. 0800-17-2002, 27,90 reais